10/25/2006


"Lula esconde a sujeira"

Advogado Hélio Bicudo

O jurista Hélio Bicudo, de 83 anos, tem uma longa militância em favor dos direitos humanos, na qual se destaca o combate à ação do Esquadrão da Morte paulista, no fim dos anos 60. Relutou muito antes de decidir manifestar sua opinião sobre o governo Lula e o PT, ao qual é filiado há 25 anos. Decidiu falar incentivado pela família e por alguns amigos, inclusive da base petista. "Não posso admitir que dentro da história que venho construindo, muitas vezes penosamente, eu possa ser considerado partícipe do que está acontecendo", disse Bicudo à editora de VEJA Lucila Soares, a quem concedeu a seguinte entrevista.

O SENHOR ACREDITA QUE O PRESIDENTE LULA SABIA DOS FATOS QUE ESTÃO VINDO A PÚBLICO?
Lula é um homem centralizador. Sempre foi presidente de fato do partido. É impossível que ele não soubesse como os fundos estavam sendo angariados e gastos e quem era o responsável. Não é porque o sujeito é candidato a presidente que não precisa saber de dinheiro. Pelo contrário. É aí que começa a corrupção.
POR QUE O PRESIDENTE NÃO TOMOU NENHUMA ATITUDE PARA IMPEDIR QUE A SITUAÇÃO CHEGASSE AONDE CHEGOU?
Ele é mestre em esconder a sujeira embaixo do tapete. Sempre agiu dessa forma. Seu pronunciamento de sexta-feira confirma. Lula manteve a postura de que não faz parte disso e não abre espaço para uma discussão pública.
HÁ OUTROS EXEMPLOS DESSA CARACTERÍSTICA?
Há um muito claro. Em 1997, presidi uma comissão de sindicância do PT para apurar denúncias contra o empresário Roberto Teixeira, que estava usando o nome de Lula para obter contratos de prefeituras em São Paulo. A responsabilidade dele ficou claríssima. Foi pedida a instalação de uma comissão de ética, e isso foi deixado de lado por determinação de Lula, porque o Roberto Teixeira é compadre dele. O único punido foi o Paulo de Tarso Venceslau, autor da denúncia. Ainda que não existisse necessariamente um crime, havia um problema sério, ético, político, que tinha de ter sido discutido e não foi. Essas coisas todas vão se acumulando e, no final, acontece o que se vê hoje.
ESSES MESMOS SINAIS ESTÃO PRESENTES NO ASSASSINATO DO PREFEITO DE SANTO ANDRÉ, CELSO DANIEL?
A história de Santo André ainda não está clara. Houve uma intervenção do próprio partido para caracterizar o crime como crime comum, do que eu discordo. Houve a eliminação do Celso, ou porque ele não concordava com a corrupção ou porque ele quis interromper o processo num determinado ponto.
O SENHOR FOI VICE-PREFEITO DE MARTA SUPLICY. COMO FOI PARTICIPAR DE UM GOVERNO PETISTA?
O que me realizou na prefeitura foi constituir a Comissão de Direitos Humanos do município. Fora isso, tudo passou ao largo do meu gabinete, por opção de Marta. E, em dezembro de 2004, já no fim do governo, quando assumi interinamente a prefeitura e houve uma chuva muito forte, com graves prejuízos à população, pude verificar que os serviços públicos estavam totalmente omissos. Convoquei uma reunião do secretariado e apareceram dois ou três. Para mim foi uma experiência extremamente negativa.
EM QUE MOMENTO O SENHOR COMEÇOU A PERCEBER QUE O PARTIDO ESTAVA NO CAMINHO ERRADO?
Quando a direção passou a tomar a frente das campanhas políticas. No início a militância era a grande força eleitoral. Isso foi mudando na medida em que o partido começou a abandonar os princípios éticos. A partir da campanha eleitoral de 1998, instalou-se definitivamente a política de atingir o poder a qualquer preço.
O PRESIDENTE LULA TAMBÉM QUERIA CHEGAR AO PODER A QUALQUER PREÇO?
Sim. Mas ele quer a representatividade, sem o ônus do poder. Ele dividiu o governo como se estivéssemos num sistema parlamentarista. É o chefe do Estado, mas não do governo. Nisso há, aliás, uma clara violação da Constituição, que é presidencialista. A conseqüência foi o aparelhamento do Estado, um governo sem projeto e essa tática de alcançar resultados pela corrupção do Congresso Nacional.
O EX-MINISTRO JOSÉ DIRCEU ERA O PRINCIPAL NOME DESSE GRUPO A QUEM LULA DELEGOU O PODER. QUAL SUA AVALIAÇÃO SOBRE ELE?
Dirceu é um trator. Ele é um homem que luta sem restrição a meios, pelo poder. Está impregnado desse objetivo. Ele é o melhor representante de um grupo que aspirava ao poder pelo poder, não para fazer as reformas que sempre defendemos. O PT chegou ao governo sem projeto. Se Lula quisesse transformar o sonho petista em realidade, poderia ter se cercado de gente que o ajudaria nisso. Pessoas como Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares, Fábio Konder Comparato, Maria Victoria Benevides, Paulo Nogueira Batista Junior trabalharam no programa e foram depois pura e simplesmente deixadas de lado. Foi uma escolha. Que continua. Em vez de buscar as pessoas autênticas, que comungam do ideal que acho que ainda é dele também, Lula se reúne com o Chávez (Hugo Chávez, presidente da Venezuela). Para quê?
O SENHOR TAMBÉM SE CONSIDERA DEIXADO DE LADO?
Eu entrei no PT porque achei que devia entrar, ajudei o Lula em vários momentos porque achei que devia ajudar e nunca pedi nada em troca. Ele é que, espontaneamente, me disse que eu assumiria uma posição. Um dia, o ministro Celso Amorim mandou seu chefe-de-gabinete me oferecer um lugar de conselheiro da Unesco. Eu pedi que me explicasse o que representava exatamente essa posição. A resposta foi: "É formidável. Três viagens por ano a Paris". Ou seja, estavam me oferecendo uma mordomia. Eu não aceitei.
EM ALGUM OUTRO MOMENTO O SENHOR FOI CHAMADO A COLABORAR COM O GOVERNO?
Sim. O então presidente do PT, José Genoíno, me pediu ajuda para convencer meus amigos deputados federais do PT a retirar seu apoio à formação da CPI dos Correios.
EXISTEM ELEMENTOS PARA QUE SE PEÇA O IMPEACHMENT DO PRESIDENTE?Os fatos podem vir a caracterizar crime de responsabilidade e, portanto, motivar um pedido de impeachment. Mas eu gostaria de lembrar que as primeiras pessoas que pediram o impeachment de Fernando Collor foram o Lula e eu. O pedido foi engavetado. Só quando houve pressão popular é que se concretizou um processo. Se você não tem apoio popular, isso cai numa discussão de juristas que não leva a nada, a não ser ao prejuízo da democracia.
COMO O SENHOR VÊ O FUTURO DO PT?
Depende muito de como esse processo vai prosseguir. Se continuarmos com uma direção chapa-branca, não vamos chegar a lugar algum – a não ser no "desfazimento" de um partido que poderia ter chegado ao poder para realizar as reformas necessárias, mas só conseguiu promover um grande isolamento do Lula.

2/10/2006


Parlamentares do PSDB defenderam ontem a convocação, pela CPI dos Correios, do ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, para explicar as investigações da Polícia Federal sobre a autenticidade da lista de Furnas. "As apurações estão sendo feitas há meses e o ministro deve responder por isso. Neste momento, apenas Thomaz Bastos pode dizer que a lista é falsa. O PSDB não abre mão da realização de uma audiência com Bastos no Congresso", justificou o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP).CALÚNIA - Em sessão administrativa, a CPI aprovou, em votação simbólica, a convocação do ex-diretor de Furnas Dimas Toledo e do publicitário Duda Mendonça. Na avaliação do relator-adjunto da comissão, deputado Eduardo Paes (RJ), o depoimento de Toledo é uma resposta política à sociedade, uma vez que ele próprio já declarou que a chamada lista de Furnas é uma fraude. A data das oitivas ainda não foi marcada.Paes afirmou que a vinda do ministro da Justiça ao Congresso não é uma tentativa de politizar a questão. "Não podemos permitir que a dúvida permaneça, muito menos manter todos os parlamentares da oposição sob suspeita."O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), também destacou a necessidade da convocação de Bastos. "O ministro, que já declarou ao governador Aécio Neves que a lista é falsa, se apequena quando insiste em manter silêncio público sobre o caso e não se coloca à disposição do Congresso para os devidos esclarecimentos", criticou.De acordo com o senador, as declarações dúbias do superintendente da Polícia Federal, delegado Paulo Lacerda, sobre a veracidade da relação de nomes e o sigilo de Bastos alimentam especulações. "A calúnia precisa ser derrotada", afirmou. Para Virgílio, ninguém dá credibilidade à lista apócrifa, incluindo a imprensa e o presidente Lula. "Senão ele teria demitido os ministros das Comunicações, Hélio Costa, e o da Saúde, Saraiva Felipe, assim que soube da presença deles na lista de Furnas. A menos que Lula esteja protegendo corruptos", acrescentou.
Parlamentares do PSDB defenderam ontem a convocação, pela CPI dos Correios, do ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, para explicar as investigações da Polícia Federal sobre a autenticidade da lista de Furnas. "As apurações estão sendo feitas há meses e o ministro deve responder por isso. Neste momento, apenas Thomaz Bastos pode dizer que a lista é falsa. O PSDB não abre mão da realização de uma audiência com Bastos no Congresso", justificou o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP).CALÚNIA - Em sessão administrativa, a CPI aprovou, em votação simbólica, a convocação do ex-diretor de Furnas Dimas Toledo e do publicitário Duda Mendonça. Na avaliação do relator-adjunto da comissão, deputado Eduardo Paes (RJ), o depoimento de Toledo é uma resposta política à sociedade, uma vez que ele próprio já declarou que a chamada lista de Furnas é uma fraude. A data das oitivas ainda não foi marcada.Paes afirmou que a vinda do ministro da Justiça ao Congresso não é uma tentativa de politizar a questão. "Não podemos permitir que a dúvida permaneça, muito menos manter todos os parlamentares da oposição sob suspeita."O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), também destacou a necessidade da convocação de Bastos. "O ministro, que já declarou ao governador Aécio Neves que a lista é falsa, se apequena quando insiste em manter silêncio público sobre o caso e não se coloca à disposição do Congresso para os devidos esclarecimentos", criticou.De acordo com o senador, as declarações dúbias do superintendente da Polícia Federal, delegado Paulo Lacerda, sobre a veracidade da relação de nomes e o sigilo de Bastos alimentam especulações. "A calúnia precisa ser derrotada", afirmou. Para Virgílio, ninguém dá credibilidade à lista apócrifa, incluindo a imprensa e o presidente Lula. "Senão ele teria demitido os ministros das Comunicações, Hélio Costa, e o da Saúde, Saraiva Felipe, assim que soube da presença deles na lista de Furnas. A menos que Lula esteja protegendo corruptos", acrescentou.