3/20/2009


Choque de Ordem X Choque de Progresso


Na década de 80 um modismo em administração era febre nas empresas foi a criação da “missão da empresa” e a das “cartas de princípios”, era comum encontra incrustadas nas paredes da maioria das salas de recepção das grandes empresas. Algumas têm cinco pontos básicos, outras chegam a ter doze, mas seguramente ninguém na empresa, nem o presidente, se lembram de mais de três itens. Missões cumpridas não funcionam.


A entidade beneficente, Ordem dos Cavaleiros da Cruz de Malta tem a mais de 1.000 anos a mesma “missão”, “obsequium pauperum”, servi aos pobres, uma missão que se mantém até hoje. O Brasil é um dos poucos países do mundo que possuem uma carta de princípios. “Ordem e Progresso”, o lema positivista de Auguste Comte gravado em nossa bandeira. “Ordem é a precondição para todo progresso”. Ordem por base Progresso por fim, diz Comte em seu cours de philosophie positive.


Boa parte da política econômica do Brasil desde a era do presidente Fernando Henrique até hoje com o governo Lula segue o lema positivista de manter a casa em ordem, sem inflação, por exemplo, como precondição para o progresso. Possuímos uma constituição de mais de 300 parágrafos que põe “ordem” em tudo ou em quase tudo.


Se você quiser abrir uma empresa no Brasil é necessário dezenas de autorização prévias para poder começar em “ordem”. Nosso lema deixa bem claro que a “ordem” vem em primeiro lugar, sem “ordem” não há progresso.


Ricardo Semler, um dos primeiros a escrever um livro de administração que se tornou best-seller popular, Virando a Própria Mesa, mostra uma interessante inconsistência. “Ordem e Progresso são incompatíveis”, argumenta Semler. Progresso por definição, é desordem, criatividade é bagunça e confusão. Basta observar a mesa de um cientista, injustamente chamado de louco por suas atitudes desordeiras.


Ou se escolhe “ordem”, diz Semler, ou se escolhe “progresso”, a grande critica de todos ao governo de Fernando Henrique foi que ele escolheu a primeira opção. É bem verdade que o estado de desordem político e econômico do Brasil era naquele momento o falimentar que vinha colocando em risco os órgãos e o sistema brasileiro de forma generalizada de maneira a destruí a sociedade brasileira. A eleição de Lula parecia uma opção de mudança do enfoque para privilegiar a segunda parte do lema nacional. Já que curiosamente talvez o excesso de ordem do Governo tucano tenha dificultado o um maior progresso. Existe uma terceira interpretação, que segue a linha de Semler, mas é um pouco diferente. Nossa Bandeira deveria conter a frase invertida: “Progresso e Ordem”. Depois da Bagunça da criação, é necessário ter uma fase mais calma de consolidação. Todos os cientistas sabem disso. De tempos em, tempos até eles criam vergonha e arrumam o laboratório. Progresso primeiro, ordem depois faz mais sentido do ponto de vista operacional.


Quem coloca a sociedade em ordem não são economista como se pregou durante muito tempo, mas também é bom que se saiba que não é um xerife cercado de homens de capacete e porretes dizendo isso não pode, aquilo também não pode e por ai vai a ordem do não pode, não pode e não pode, de maneira quase que indiscriminada. A ordem social não vai se estabelecer com apreensões de mercadorias e produtos de ambulantes, que na “desordem” da legalidade trabalham pelo progresso social de suas famílias. Nossa sociedade chegou a um nível tal de “desgoverno” (e esse é o ponto critico da questão) que nos últimos anos são os “desordeiros trabalhadores da informalidade” os que mais ajudam a consolidar os “progressos” socioeconômicos e por mais incrível que pareça também os estruturais que temos hoje, as pesquisas do próprio IBGE dizem isso claramente. Os “desordeiros trabalhadores informais” tornaram-se na sociedade carioca os empreendedores, criadores e revolucionários, característica que difere o Rio do resto do país. O governo e os governantes que quiserem ser bem sucedidos e progressistas terão que aceitar o desafio não de aniquilar com estes mais o de sedimentá-los em leis e lições realista com este momento e não com ilusionismo pra ocupar paginas de jornal. Para que de fato as mudanças necessárias se tornem consagradas, sedimentadas e difundidas.


Quem gera o progresso sem duvida são os criadores, os inovadores, as pequenas empresas e os pequenos empresários, os artistas que quebram paradigmas, os trabalhadores informais e ou ambulantes que superam a falta de oportunidade das benesses da letra oficial e ainda vencem as tentativas de sedução da oportunidade da criminalidade, os que destroem a “ordem” e a visão reinante, os que se arriscam e mostram o exemplo.


A desordem dessa fase precisa de uma pausa para respirar e de membros da sociedade preocupados em consolidar as conquistas geradas e a corrigir (com atenção a sociedade e ao social) os erros adquiridos.


A ordem sucede ao Progresso. Não o antecede como reza a nossa bandeira. Portanto, o que precisamos com urgência é de um choque de Progresso.

Um comentário:

Vinicius Suliano disse...

Cara, você escreve bastante, não? Quase tanto quanto fala...