3/15/2011

A força do mensalão no governo Dilma

Por Raymundo Costa * - Valor Econômico - 15/03/2001


O ministro Joaquim Barbosa (STF) sinalizou aos réus do processo do mensalão que deve deixar para apresentar seu parecer apenas em 2012.
Trata-se de péssima notícia para os acusados. O adiamento leva ojulgamento para o olho do furacão de um ano eleitoral, quando os ânimos estão exacerbados e as paixões políticas, em geral, a flor da pele.
Texto completo

Politicamente, o julgamento agora pode alterar a relação de forças no governo. Juridicamente, o ideal seria mesmo 2011.
É um ano de intervalo eleitoral, portanto, sem a pressão do calendário da eleição municipal de 2012 sobre a mídia e o próprio Judiciário. Mesmo que se trate de uma eleição para prefeito e vereadores, o ideal para os acusados e seus advogados o melhor era que o julgamento ocorresse este ano, no segundo semestre, por volta de setembro, como era previsto. Ou então deixado definitivamente para 2013.


Interessa a todos que o julgamento seja realizado distante das pressões eleitorais. Isso dará maior segurança de justiça feita, seja na condenação ou em eventuais absolvições, graça sinceramente esperada por alguns réus. O que não deve é pairar dúvida sobre os procedimentos no processo. A recente quebra do sigilo fiscal dos réus, entre outras medidas determinada por Barbosa, por exemplo, cheira queimado.

Julgamento em 2012 altera relação de poder  
Pedida pelo procurador-geral Roberto Gurgel a pouco mais de dois meses do fim de seu mandato, foi acatada pelo relator Joaquim Barbosa sob a justificativa de ser medida necessária para calcular possíveis multas, em casos de condenação. O fato é que esses sigilos já estão nos autos.
A movimentação fiscal, bancária e telefônica dos réus foi virada do avesso nas CPIs do Congresso e na denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal. 
 
Alguns dos acusados vão além e avaliam que Joaquim Barbosa, ao aceitar a argumentação de Roberto Gurgel, deu a entender estar mesmo predisposto a condenar, mandar pagar multas e aplicar eventuais penas  de restrição de liberdade.
Em resumo, assim como à mulher de César não basta ser honesta, a Justiça também precisa parecer que é imparcial. Se o processo dos  assim chamados "mensaleiros" ficar para 2012, o julgamento ocorrerá provavelmente alguns meses antes da eleição do ministro Barbosa para a presidência do STF, no segundo semestre, o que não deixará de ser um constrangimento para seus colegas.
O adiamento é um golpe nos planos dos acusados de integrar o mensalão que tentam se recolocar no cenário político. O mais importante, entre eles, é o ex-ministro José Dirceu. Ele é um dos que não têm dúvidas de que o julgamento em 2012 será eleitoral. Dirceu esperava ser um dos primeiros a ser julgados e... absolvido. É fundamental para José Dirceu, que mantém influência no PT, retornar plenamente ao jogo do poder e encurtar a distância política que Antonio Palocci (Casa Civil) abre de vantagem a cada dia que ele passa na condição de suposto "chefe de quadrilha". 
 
Movimentos feitos no Palácio do Planalto intrigam os acusados de operar o esquema do mensalão. Não que a presidente Dilma Rousseff e auxiliares tenham ficado contrários, mas distantes, em atitude  prudente, em relação às tentativas de retorno desencadeadas por alguns deles. Por exemplo: não se envolveu na eleição de João Paulo Cunha (PT-SP) para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ). Argumento: era um problema da Câmara, o PT da Câmara resolveria. Ou seja, também não ajudou.
O reingresso do Delúbio Soares no PT também não provocou qualquer reação no Palácio do Planalto Talvez não devesse mesmo, mas os acusados de integrar o esquema registraram. A ida do ex-deputado José Genoino para o Ministério da Defesa também entrou na conta do ministro Nelson Jobim, amigo de 40 anos do ex-presidente petista.
 
Do ponto de vista "mensaleiro", o ministro Jobim tomou a iniciativa e o Palácio do Planalto gostou, mas ficou quieto. Delúbio Soares e José Genoino, além de João Paulo e José Dirceu, todos dependem do veredito do STF para tentar ou não um retorno à cena política e eleitoral. Isso sem falar de outros poderosos do primeiro governo Lula, como Luiz Gushiken, ou dos não petistas como Roberto Jefferson (PTB), cujas denúncias desencadearam o processo do mensalão.

Além de intrigar, o comportamento dos palacianos causa desapontamento no grupo petista do mensalão. Por um motivo: quando Palocci foi acusado de quebrar o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, houve um esforço concentrado do antigo governo - que em grande medida é o mesmo de agora - para que a situação fosse logo resolvida. O fato é que Palocci nem chegou a ser denunciado pelo Ministério Público Federal e pode ser absorvido sem problemas pela campanha de Dilma, onde se tornou um de seus mais influentes assessores. No governo virou chefe da poderosa Casa Civil. 
 
Dirceu e os demais réus petistas jamais reconhecerão fora dos círculos companheiros, mas acham que ninguém no governo está empenhado em ajudar a apressar o julgamento do mensalão. Nos momentos de maior  depressão, integrantes desse grupo dizem que o desinteresse palaciano só pode ter um significado: ninguém no governo está interessado em que eles voltem. 
 
*Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília.

2 comentários:

Maria A.Carvalho disse...

Em um país civilizado já teriam sido banidos de Brasília faz tempo.
Em outro país mais civilizado já teriam feito harakiri.

Anônimo disse...

É isso ai Maria, mais o que acontece que pro país ser civilizado o povo precisa votar com descencia, mas o povo vota da mesma maneira corrupta que este bandidos, o povo vende o voto por R$ 50, 00, por uma cesta basica, meio metro de areia e etc... Sei qued o povo tem necessidades mais uma coisa poxa a outra se eu corrompo o meu voto eu voto num bandido, então como vou reclamar depois?
Marcos Cristiano, continue na luta quem sabe um dia você não chega ao seleto grupo dos homens de bem que estão lutando pelo nosso povo lá no meio desses bandidos do poder oficial.

Carlo Leandro Senna.